Existem diversas configurações de famílias, como por exemplo: a família nuclear ou monoparental, a família homoafetiva, a família adotiva, a família de criação, família sem filhos e a família extensa. Eu vou focar aqui na família extensa, que é aquela que abrange pais, filhos, tios e tias, primos e primas, avôs e avós, cunhados e cunhadas e todas aquelas pessoas que vivem juntas ou estão frequentemente presentes na vida cotidiana um do outro.
Nós precisamos levar em consideração que cada família tem seu modo de ser, de existir no mundo, ou seja, cada família tem uma cultura que é dela, tem seus rituais diários e principalmente um modo único de ver e viver as coisas da vida.
Por exemplo: tem família que prefere tomar café da manhã com pão francês umedecido com margarina e um copo de café com leite. Outras, já tomam um suco de laranja e uma omelete. Eu sei que é um exemplo muito simples, mas é para que fique claro, que assim como nenhuma pessoa é igual a outra, assim são as famílias.
Porém, existem coisas que precisam ser entendidas por todos como certas e erradas, e o abuso é uma coisa errada e que precisa ser compreendida e combatida por toda e qualquer família. Mas, qualquer família pode ter uma ou mais pessoas que tomam atitudes muito ruins e prejudiciais em relação a qualquer tipo de abuso.
A proteção de abusadores por parte de algumas famílias pode ter várias razões, e é importante mencionar que essa situação não é universal e não se aplica a todas as famílias. Então, com base na literatura científica, eu vou listar aqui alguns motivos que fazem famílias protegerem abusadores.
Laços familiares e lealdade: As famílias são unidades sociais complexas, onde os laços emocionais e afetivos são formados. Por isso, esses laços podem criar aquela sensação de obrigação de lealdade de uma forma muito forte. Os membros da família podem pensar que devem se calar por terem que ser leais ao abusador, afinal ele é parte daquela família também e acreditam que um deve proteger o outro.
Medo da desintegração da família: Muitas famílias têm um forte desejo de preservar a unidade familiar a qualquer custo. Isso pode levar os membros a se protegerem uns aos outros, mesmo em situações difíceis ou problemáticas, como abuso ou comportamento inadequado. Junto com o medo da desintegração da família vem também uma outra questão:
A Proteção da imagem familiar: algo muito comum em cidades do interior, aquelas famílias que são muito conhecidas, que tem uma boa reputação na cidade ou na região. Levar a público que existe um membro da família que comete abuso pode parecer algo terrível, pois as pessoas têm medo que outros membros da família fiquem com a imagem prejudicada.
Outra coisa muito comum é a Negação: Algumas famílias podem ter dificuldade em acreditar que um membro próximo, como um pai, mãe, irmão ou filho, seja capaz de cometer abuso. Por isso eles ignoram os sinais. Alguns membros da família podem minimizar ou ignorar as ações do abusador, na esperança de que o problema desapareça ou que a pessoa mude. Isso acaba protegendo o abusador e colocando a vítima em constante perigo. Uma coisa que preciso destacar aqui é que, para um familiar aceitar que o abuso aconteceu, significa confrontar a própria incapacidade de reconhecer ou impedir o comportamento abusivo.
Essa negação leva a uma outra questão: O MEDO DAS CONSEQUÊNCIAS!
Aceitar que um abuso existe força a pessoa a tomar uma atitude, por isso, se ela nega que o abuso exista ela não precisa tomar uma atitude. A revelação de um abuso pode ter implicações legais, sociais e emocionais para a família. Por isso, negar o abuso pode ser uma tentativa de evitar a ter que enfrentar as possíveis repercussões negativas que podem surgir ao lidar com a situação. Como a prisão do abusador, a dissolução de algumas relações, ruptura da imagem pública da família e medo do julgamento social.
O último motivo que quero destacar, é a questão das crenças distorcidas: infelizmente, muitas famílias acreditam que a vítima provocou o abusador de alguma forma, como por exemplo, dizer que a criança ou adolescente provocou o abuso pois usava uma roupa curta ou abraçou o abusador. Tem também a questão de que muitos normalizam o abuso por ele já ser praticado a algumas gerações dentro ou próximo da família. Os próprios membros da família podem ter crescido em ambientes onde o abuso era tolerado, minimizado ou até mesmo justificado, o que leva a uma aceitação das agressões como algo comum.
Proteger o abusador e não denunciá-lo coloca a vítima em uma situação muito perigosa, afinal, a ausência de atitude faz com que a vítima fique no mesmo ciclo familiar que o abusador. Isso gera diversas consequências, aqui eu quero listar 3 delas:
A primeira consequência é o risco contínuo de abuso: manter o abusador próximo da vítima aumenta o risco dela continuar a ser abusada, o que pode afetar a sua segurança física, emocional e psicológica. Isso nós chamamos de revitimização: esse abuso contínuo faz a vítima entrar em ciclo de violência que a faz sentir-se incapaz de escapar do abuso e encontrar segurança. Ou seja, o trauma se torna persistente e prolongado, o que gera ansiedade, medo, vergonha, culpa e baixa auto-estima. Tudo isso pode ter efeitos devastadores na saúde mental da vítima.
A segunda consequência é o isolamento social: A presença do abusador próximo da vítima pode restringir sua liberdade e autonomia. A vítima pode ter medo de buscar ajuda ou de compartilhar sua situação com outras pessoas, como professores e amigos mais próximos, o que pode agravar a sensação de solidão e falta de apoio. Isso pode fazer com que a vítima se sinta desvalorizada e dependente do agressor, acreditando que não há alternativa ao abuso ou ainda temendo as consequências de denunciar o abuso ou buscar ajuda.
A terceira consequência são os efeitos no desenvolvimento infantil: A presença constante de uma figura abusiva pode interferir no desenvolvimento saudável da criança, causando danos emocionais, cognitivos e comportamentais a longo prazo. As crianças que sofrem abuso podem desenvolver uma baixa autoestima e uma visão negativa de si mesmas. Elas podem internalizar a culpa e a vergonha associadas ao abuso, acreditando que são responsáveis pelo que aconteceu. Elas podem ter dificuldades em estabelecer relacionamentos saudáveis, empatia e autocontrole emocional. Isso pode afetar suas interações com os outros e sua capacidade de regular suas emoções. O abuso pode levar as crianças a adotarem comportamentos destrutivos, como agressividade, comportamento autolesivo, abuso de substâncias e comportamentos de risco. Esses comportamentos podem ser uma forma de lidar com o trauma e expressar sua dor e raiva.
Agora que você entendeu alguns dos motivos que levam pessoas a não denunciarem seus familiares que cometem abuso, eu quero lembrar que se você ou alguém que você conhece passa ou já passou por isso, é possível buscar ajuda. A denúncia é uma forma de libertar uma pessoa desse tipo de violência e ela pode ser anônima!
Espero que essas informações tenham te ajudado. Até logo, fique bem!
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