Burnout: não é só cansaço!

Diferença entre cansaço e estresse

O burnout é um fenômeno que afeta muitas pessoas em diferentes áreas da vida, mas é especialmente comum no contexto profissional. Ele é caracterizado por um estado de esgotamento físico, emocional e mental devido ao estresse crônico e prolongado. O termo “burnout” foi introduzido pela primeira vez pelo psicólogo Herbert Freudenberger na década de 1970 e desde então tem sido objeto de estudo e pesquisa em várias disciplinas, incluindo psicologia, medicina e gestão de recursos humanos.

Ao contrário do que muitos imaginam, o burnout não é apenas um cansaço, mas algo que vai muito mais além. O cansaço pode ser superado após uma noite de descanso. Mas quando apenas a noite de sono não é o suficiente e o estresse torna-se repetitivo e acumulativo, então é neste momento que deve-se prestar atenção aos sinais.

O estresse é uma resposta do organismo a qualquer demanda ou desafio que exija ajustes ou adaptações. É uma reação natural do corpo a situações de pressão ou ameaça. O estresse pode ser desencadeado por diversos fatores, como problemas financeiros, conflitos pessoais, pressão no trabalho, entre outros. Quando uma pessoa percebe uma situação como estressante, o corpo entra em um estado de alerta, liberando hormônios como o cortisol e a adrenalina.

Em pequenas doses, o estresse pode ser benéfico, motivando as pessoas a enfrentar desafios e superar obstáculos. No entanto, o estresse prolongado ou crônico, quando o corpo permanece em estado de alerta por um período prolongado, pode ser prejudicial à saúde.

Para deixar um pouco mais claro, é preciso entender o ciclo do estresse. Imagine uma pessoa próxima a você que começa a dizer que está cansado. Depois essa pessoa começa a dizer que está cansado e irritado. Depois essa pessoa começa a ter sintomas físicos. O tempo vai passando e ela começa a ter dificuldades relacionais. Um dia essa pessoa começa dizer que está sem tempo para si mesmo. Passa-se o tempo e ela começa a dizer que não tem descanso. Em algum momento, os domingos à noite se tornam terríveis por pensar que a segunda-feira está próxima. Chega-se a um ponto em que a pessoa encontra-se em completo  estado de desânimo. Esse é um exemplo simples do ciclo do estresse. Você consegue perceber que o problema se apresenta nos detalhes?

Definição do burnout de acordo com a OMS

Uma definição amplamente aceita é a proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo a OMS, o burnout é um fenômeno relacionado ao trabalho que se manifesta por três dimensões principais:

Exaustão emocional: Refere-se à sensação de esgotamento emocional e físico. As pessoas com burnout sentem-se emocionalmente drenadas, exaustas e sem recursos para lidar com as demandas do trabalho. Elas podem experimentar sentimentos de fadiga constante, falta de energia e dificuldade em lidar com o estresse diário.

Despersonalização: Envolve a adoção de uma atitude distante, cínica e despersonalizada em relação ao trabalho e às pessoas com as quais se interage profissionalmente. As pessoas com burnout podem começar a se afastar emocionalmente dos outros, tratando-os de maneira impessoal e desumanizada. Elas podem desenvolver uma falta de empatia e conexão emocional com os colegas de trabalho e os clientes.

Baixa realização pessoal: Refere-se a uma percepção negativa de si mesmo e de suas realizações no trabalho. As pessoas com burnout podem sentir que seu trabalho não tem significado ou propósito, experimentando uma sensação de fracasso e falta de satisfação profissional. Elas podem ter a sensação de estarem presas em uma rotina sem sentido e com poucas oportunidades de crescimento e desenvolvimento.

O ciclo do burnout

 Embora a experiência do burnout seja única para cada pessoa, existem algumas etapas comuns no desenvolvimento do burnout:

Entusiasmo e dedicação: Nessa fase inicial, os indivíduos estão altamente motivados e entusiasmados com seu trabalho. Eles têm energia e paixão para enfrentar os desafios e metas profissionais. No entanto, à medida que o tempo passa, a pressão e as demandas aumentam, levando à próxima fase.

Sobrecarga e estresse: Conforme as responsabilidades profissionais se acumulam, os indivíduos começam a se sentir sobrecarregados e estressados. Eles podem experimentar uma carga de trabalho excessiva, prazos apertados e falta de recursos adequados. O estresse contínuo pode levar à exaustão emocional e física.

Desgaste e desencantamento: Nessa fase, os indivíduos começam a sentir os primeiros sinais de desgaste. Eles podem começar a questionar seu trabalho, sentir-se desmotivados e desencantados com suas tarefas e responsabilidades. A exaustão emocional e a despersonalização podem se tornar mais evidentes nesse estágio.

Apatia e distanciamento: À medida que o burnout se intensifica, os indivíduos podem se tornar apáticos e distantes em relação ao trabalho. Eles podem perder o interesse e a motivação, adotando uma atitude de desprezo e cinismo em relação às suas atividades profissionais. A exaustão emocional e a despersonalização podem se tornar ainda mais evidentes nesse estágio.

Colapso e desistência: Nessa fase final, os indivíduos podem experimentar um colapso físico e emocional, perdendo completamente a capacidade de lidar com o estresse e as demandas do trabalho. Eles podem se sentir completamente esgotados, sem energia ou motivação para continuar. Nesse estágio, muitas pessoas decidem desistir de seus empregos ou mudar de carreira, buscando uma forma de escapar do ciclo de burnout.

No DSM-5-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), que é uma obra literária usada por psicólogos e psiquiatras, o burnout não é entendido como uma doença até o momento. Mas no CID11 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde), que inclusive é reconhecida universalmente e frequentemente atualizada pela OMS, o burnout é considerado um fenômeno ocupacional, um estado de exaustão vital. 

A CID 11 também considera o burnout como uma síndrome resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso. Mas segundo a OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde), a OMS está “organizando o desenvolvimento de diretrizes baseadas em evidências sobre o bem-estar mental no local de trabalho”. Isso é um sinal muito importante e positivo para o cuidado com a saúde e a garantia de direitos para os trabalhadores que passam por este problema. 

Rescisão indireta e indenização por danos morais: é possível?

Cabe ao advogado trabalhista responder às questões jurídicas sobre o assunto, mas segundo juristas, é possível solicitar a rescisão indireta e também indenização por danos morais em relação ao burnout. Porém, para isso é necessário reunir provas. É neste momento que o psicólogo também pode contribuir para o sucesso do processo,  ajudando a determinar se há nexo de causalidade entre o meio ambiente do trabalho e o burnout, através da avaliação psicológica.

Espero que essas informações tenham te ajudado. Até logo, fique bem!

Referências: 

  • Abbad, G.S.; Borges-Andrade, J.E. (2004). Aprendizagem humana em organizações e trabalho. Psicologia, Organizações e Trabalho no Brasil Porto Alegre: Artmed.
  • Awa, W.L.; Plaumann, M.; Walter, U. (2010). Burnout prevention: a review of intervention programs. Patient Education and Counseling78(2), 184-190.
  • Trigo, Telma Ramos, Teng, Chei Tung, & Hallak, Jaime Eduardo Cecílio. (2007). Síndrome de burnout ou estafa profissional e os transtornos psiquiátricos. Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo), 34(5), 223-233. https://dx.doi.org/10.1590/S0101-60832007000500004.
  • World Health Organization. (1992). The ICD-10 classification of mental and behavioural disorders: clinical descriptions and diagnostic guidelines (Vol. 1). World Health Organization.

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