Relacionamentos abusivos: as 5 fases

Imagine-se preso em um labirinto de emoções, onde a violência física, psicológica e muitas vezes até sexual, atua como correntes que aprisionam a sua liberdade. Relacionamentos abusivos são como uma teia de poder, projetada para subjugar e dominar a vítima. A dependência se instala, alimentada por um ciclo de apatia, controle e hostilidade.

As várias formas de violência dentro de um relacionamento

O abusador utiliza táticas persuasivas, manipulando emocionalmente para exercer um controle absoluto. O excesso de poder se manifesta em diferentes formas, como a opressão, o controle e a dominância. É uma batalha desigual, onde a vítima se vê subjugada e privada de sua própria autonomia.

Muitos relacionamentos abusivos não possuem violência física, mas praticam outro tipo de violência que machuca de forma igual ou muito pior: a violência psicológica. Esse é o tipo de violência que se manifesta como uma sombra silenciosa que toma conta de forma sorrateira, indo pelas beiradas. Começa com olhares de reprovação ou de desdém, ameaças veladas. Logo, insultos e  gritos se tornam a trilha sonora de sua vida, mergulhando-o em insegurança e humilhação. Os efeitos dessa violência persistem, deixando cicatrizes profundas que ecoam por toda a existência.

Mas aqui vai um alerta: cada relacionamento abusivo é único e tem sua complexidade. Não é possível generalizar, mas uma certeza prevalece: tanto o dano físico quanto o emocional são inevitáveis. É preciso analisar cuidadosamente as dinâmicas entre vítima e agressor para entender a profundidade do abuso e encontrar a força necessária para romper essas correntes de dominância.

Imagine um predador astuto, habilidoso em suas artimanhas, que se camufla nas sombras, pronto para atacar sua presa. Agora traga essa imagem para o contexto dos relacionamentos abusivos em que o abusador emocional desempenha o papel desse predador. Sua estratégia é meticulosa visando a manipulação e a dominação emocional da vítima.

O abusador emocional não se revela de imediato. Pelo contrário ele é mestre em se camuflar sob uma fachada de encanto e sedução. Normalmente os vizinhos de um abusador emocional vão dizer que ele é um cara bacana, gentil e prestativo sempre com um sorriso no rosto bom chefe de família… Ele busca suas vítimas com uma precisão cirúrgica identificando suas fraquezas, vulnerabilidades e inseguranças. Como um leão que escolhe a presa mais frágil do rebanho, o abusador emocional busca alguém que esteja predisposto a aceitar suas táticas manipuladoras.

 

Se você ou alguém que você conhece está passando por um relacionamento abusivo, é importante buscar ajuda profissional para sair dessa situação. Você não precisa passar por isso sozinho(a). 

Esses predadores são extremamente carismáticos e envolventes. Eles conhecem a arte da sedução e sabem exatamente quais botões apertar para conquistar a confiança da vítima. Elogios excessivos, atenção constante e uma aura de encantamento são suas armas principais. Eles se apresentam como parceiros perfeitos, capazes de preencher todas as lacunas emocionais da vítima.

Ou seja, a escolha da vítima não é aleatória. O abusador emocional busca pessoas que sejam suscetíveis à manipulação, seja devido a traumas passados, baixa autoestima ou falta de recursos emocionais para reconhecer os sinais de alerta. Ele procura alguém que esteja sedento por amor, aceitação e segurança, alguém que anseie por um relacionamento saudável e estável.

Por isso, é essencial compreender como esses predadores emocionais selecionam suas vítimas. Conhecer os sinais e as táticas utilizadas pelos abusadores pode ajudar a prevenir o ciclo de abuso e capacitar as pessoas a reconhecerem quando estão sendo alvo de manipulação. É um passo crucial para quebrar o ciclo e buscar relacionamentos saudáveis, baseados no respeito, na igualdade e no bem-estar emocional.

As 5 fases do relacionamento abusivo

Vou explicar aqui quais são as 5 fases do relacionamento abusivo, para que você possa aprender a identificar, se proteger e quem sabe, ajudar outras mulheres a identificar esse tipo de relacionamento. Vamos lá?

1º Fase- a idealização: Na fase de idealização de um relacionamento abusivo, o agressor emprega estratégias manipuladoras para conquistar e seduzir a vítima, criando uma imagem distorcida de perfeição e amor incondicional. Nessa etapa, ele se apresenta de forma encantadora, atenciosa e carinhosa, transmitindo uma falsa sensação de segurança e afeto à pessoa que está sendo alvo do seu comportamento abusivo.

Durante a fase de idealização, o agressor investe tempo e energia em agradar a vítima, excedendo-se em elogios, presentes e demonstrações públicas de afeto. Ele busca criar uma dependência emocional na vítima, fazendo-a acreditar que encontrou um parceiro perfeito, capaz de satisfazer todas as suas necessidades emocionais. Essa idealização excessiva faz com que a vítima se sinta valorizada, amada e especial, alimentando suas esperanças de um relacionamento perfeito.

O agressor é hábil em explorar as vulnerabilidades e carências da vítima, manipulando suas emoções e estabelecendo uma conexão emocional intensa. Ele se mostra compreensivo, sensível às necessidades da vítima e demonstra um interesse aparentemente genuíno por sua vida, sonhos e desejos. Essa atenção constante faz com que a vítima se sinta única e importante, alimentando suas expectativas de um relacionamento saudável.

Durante a fase de idealização, a vítima tende a ignorar ou minimizar comportamentos abusivos sutis que possam surgir. Ela pode justificar ou desculpar essas atitudes, convencendo-se de que são apenas falhas momentâneas do parceiro e que o amor e a dedicação dele são reais. A ilusão de um relacionamento perfeito é tão forte que a vítima se fecha para sinais de alerta e preocupações legítimas, mantendo-se presa a essa idealização.

É importante ressaltar que a fase de idealização é apenas o começo de um relacionamento abusivo. À medida que o tempo passa, essa imagem perfeita desmorona, revelando comportamentos abusivos mais evidentes. O agressor pode começar a exercer controle, manipulação emocional, críticas constantes, isolamento social e outros tipos de abuso, minando gradualmente a autoestima e a independência da vítima.

2º Fase- a desvalorização: A fase da desvalorização é uma das etapas mais dolorosas e destrutivas de um relacionamento abusivo. Nessa fase, o agressor começa a minar a autoestima, a confiança e a segurança emocional da vítima, destruindo gradualmente sua identidade e senso de valor próprio.

É nessa fase que o abusador passa a criticar e desvalorizar constantemente a vítima. Ele utiliza palavras humilhantes, insultos, depreciações e ridicularizações para minar sua autoconfiança e autoestima. Ele procura encontrar qualquer oportunidade para diminuir a vítima, fazendo-a sentir-se inadequada e inferior.

Além das críticas, o abusador também pode adotar comportamentos de controle e isolamento social. Ele pode restringir a liberdade da vítima, monitorando suas atividades, controlando suas interações sociais e até mesmo proibindo-a de se conectar com amigos e familiares. Esse controle excessivo limita a autonomia da vítima, tornando-a dependente emocionalmente do abusador.

Durante a fase da desvalorização, o abusador também pode alternar entre comportamentos de amor e ódio. Ele pode mostrar-se carinhoso e afetuoso em um momento e, em seguida, agir de forma cruel e hostil. Essas oscilações confundem a vítima, fazendo-a questionar sua própria sanidade e buscando constantemente a aprovação e o amor do abusador.

A vítima pode internalizar as críticas e as mensagens negativas recebidas durante a desvalorização. Ela começa a duvidar de si mesma, de suas capacidades e de seu valor como pessoa. Essa auto imagem negativa se torna um ciclo vicioso, alimentado pelas palavras e ações abusivas do agressor.

É comum que a vítima se sinta presa nesse ciclo, acreditando que merece o tratamento abusivo e que não é capaz de encontrar uma saída. O abusador manipula essa vulnerabilidade, reforçando a dependência emocional da vítima e fazendo-a acreditar que não encontrará felicidade ou amor em outro lugar.

3º Fase- o controle e isolamento: A fase do controle e isolamento é uma das fases mais perigosas e prejudiciais de um relacionamento abusivo. Nessa etapa, o agressor busca exercer controle total sobre a vida da vítima, minando sua autonomia, liberdade e conexões sociais.

Durante a fase do controle e isolamento, o abusador começa a impor restrições à vítima, criando um ambiente de dependência emocional e manipulação. Ele procura controlar seus movimentos, monitorar suas atividades e limitar suas interações com outras pessoas. Isso pode ser feito através de constantes perguntas invasivas, exigindo explicações detalhadas sobre suas ações ou até mesmo proibindo-a de sair de casa sem permissão.

4º Fase- explosão da violência: A fase da explosão da violência é uma das fases mais perigosas em um relacionamento abusivo. É quando ocorre agressão física ou violência patrimonial. A tensão aumenta gradualmente até chegar ao ponto em que qualquer coisa pode desencadear uma explosão violenta. A vítima sofre com agressões verbais crises e de ciúmes ameaças passando a ter um medo constante de contrariar o parceiro. É importante buscar ajuda profissional para sair dessa situação.

Durante a fase das explosões, o abusador perde o controle sobre suas emoções e impulsos, resultando em explosões de raiva, agressão e violência. Ele pode usar palavras ofensivas, insultos, ameaças, humilhações e até mesmo agredir fisicamente a vítima. Essas explosões são imprevisíveis, podendo ser desencadeadas por motivos triviais ou sem motivo aparente.

Esses episódios de violência têm como objetivo exercer poder e controle sobre a vítima, instilando medo, submissão e obediência. O agressor busca desestabilizar emocionalmente a vítima, fazendo-a sentir-se impotente e ameaçada. As explosões podem deixar a vítima traumatizada, com sequelas físicas e emocionais duradouras.

Durante a fase das explosões, é comum que a vítima sinta-se presa em um ciclo vicioso de abuso. Ela pode sentir medo de represálias, de deixar o agressor ou de buscar ajuda. O abusador, por sua vez, pode alternar entre momentos de arrependimento e promessas de mudança, manipulando a vítima para mantê-la no relacionamento abusivo.

Eu preciso deixar claro aqui que o agressor é responsável por suas ações e escolhas violentas. Nenhum comportamento da vítima justifica a violência sofrida. A vítima deve entender que merece ser tratada com respeito, dignidade e segurança, e buscar apoio para sair desse ciclo de abuso.

5º Fase- a reconciliação: Após explosões de violência e agressão, o agressor busca uma aparente reconciliação com a vítima. O que pode causar uma mistura de emoções contraditórias e confusão para a vítima, tornando ainda mais difícil sair do ciclo de abuso.

Nessa fase, o agressor muitas vezes mostra remorso, arrependimento e tenta convencer a vítima de que mudará seu comportamento. Ele pode se desculpar, prometer que nunca mais repetirá as agressões e demonstrar um comportamento carinhoso e atencioso. Essa mudança repentina pode alimentar a esperança da vítima de que o relacionamento possa ser melhorado e de que o abusador realmente mudou.

Só que a fase da reconciliação faz parte do ciclo de abuso e serve como uma tática do abusador para manter o controle sobre a vítima. O agressor utiliza desse período de calmaria para fazer com que a vítima acredite que o abuso foi um incidente isolado e que o relacionamento pode se recuperar pois aquilo não vai mais acontecer. Mas infelizmente essa reconciliação é temporária e não representa uma mudança real do agressor.

E aí vem um grande problema: a vítima pode ficar dividida entre o desejo de acreditar nas promessas do agressor e o medo de reviver a violência e agressão. Ela pode ter esperanças de que o abusador possa realmente mudar e de que o relacionamento possa se tornar saudável. Essa esperança pode levar a um sentimento de lealdade em relação ao agressor, dificultando a tomada de decisões para sair do relacionamento abusivo.

Você não tem culpa da violência que você sofreu!

Agora que você já conhece as 5 fases de um relacionamento abusivo eu quero deixar claro principalmente para você que é vítima de um relacionamento abusivo: as agressões sejam elas físicas ou psicológicas, NÃO DEFINEM A SUA IDENTIDADE E NEM QUEM VOCÊ É! Com o tempo e o apoio necessário é possível se libertar do ciclo de abuso.

Eu sei, romper com o abusador pode ser desafiador e sofrido,  é necessário força, coragem e muito apoio, mas é um passo essencial para reconstruir sua vida baseada no respeito, na dignidade e no seu bem-estar físico e mental.

Você ainda pode sair desse labirinto! Busque ajuda profissional saiba os seus direitos. Você é merecedora de uma vida livre e feliz. Você pode reescrever sua história e ser protagonista da sua própria vida.

Dano psíquico: você pode buscar reparação pela violência sofrida

Você já ouviu falar em dano psíquico? O processo judicial por dano psíquico, também conhecido como ação por danos morais ou dano moral, refere-se a um tipo de processo judicial em que uma pessoa busca compensação financeira de outra parte devido a danos causados à sua saúde mental, emoções, dignidade, honra ou reputação. Esse tipo de processo é comum quando alguém sofre agressões psicológicas, humilhações, discriminação, assédio moral ou outras formas de abuso que resultam em sofrimento psíquico significativo.

É necessário comprovar que houve uma conduta inadequada por parte do agressor, que essa conduta causou danos à saúde mental da vítima e que esses danos têm uma relação direta com a conduta do agressor. É importante apresentar evidências, como testemunhos, registros médicos, laudos psicológicos e outras documentações que possam demonstrar o impacto negativo que o evento teve na saúde mental da vítima. Você pode buscar um advogado para maiores informações.

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Espero que essas informações tenham te ajudado. Até logo, fique bem!

Referências:

  • Ajzen, I., Fishbein, M. (1980). Understanding attitudes and predicting social behavior Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall.

  • Bell, K. M., & Naugle, A. E. (2005). Understanding stay/leave decisions in violent relationships: A behavior analytic approach. Behavior and Social Issues.

  • Brockner, J., & Rubin, J. Z. (1985). Entrapment in escalating conflicts: A social psychological analysis. New York, SpringerVerlag

  • Dutton, D. G., & Painter, S. L. (1981). Traumatic bonding: The development of emotional attachments in battered women and other relationships of intermittent abuse. Victimology, 6, pp. 139 – 155. 

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