Assédio moral, dano psicológico e avaliação psicológica

O sentido do trabalho

Quando falamos sobre trabalho, é possível observar como ele evoluiu ao longo do tempo e como diferentes pesquisadores têm explorado seu significado. Para muitos, o trabalho não é apenas uma maneira de garantir a sobrevivência; ele desempenha um papel crucial na forma como encontramos sentido e propósito em nossas vidas. Para alguns estudiosos, como Antunes (2000), o trabalho é fundamental para nossa sensação geral de realização e satisfação. Encontrar significado no trabalho vai além do simples emprego; envolve autodeterminação, autonomia e liberdade. Quando somos capazes de agir de forma autônoma em nossas atividades profissionais, o trabalho se torna mais do que apenas uma fonte de renda – ele se torna uma fonte de significado e propósito.

Além disso, o trabalho não é apenas uma atividade isolada; ele também influencia nossa interação com os outros e molda nossa identidade social. Como apontam Kubo, Gouvêa e Mantovani (2013), o significado do trabalho está intrinsecamente ligado a várias dimensões, como seus objetivos, resultados valorizados e as normas sociais que o cercam. Suas pesquisas revelaram que o trabalho desempenha um papel fundamental em conferir sentido às nossas vidas. Elementos como aprendizado, autonomia, prestígio e oportunidades de crescimento têm um impacto significativo em como percebemos o significado em nosso trabalho, muitas vezes superando até mesmo questões como direitos e deveres relacionados ao emprego.

Entretanto, nem todos os pontos de vista sobre o trabalho são positivos. Enquanto alguns veem o trabalho como uma bênção, outros, como Blanch (2003) e Standing (2013), levantam questões sombrias sobre o mundo profissional moderno. Blanch argumenta que, para muitos, o trabalho é visto como uma maldição, um castigo, algo que traz sofrimento. Standing, por sua vez, observa a crescente precarização do trabalho, especialmente devido ao neoliberalismo, que resulta em instabilidade para os trabalhadores. Essa instabilidade não afeta apenas os trabalhadores menos qualificados; mesmo aqueles com alta qualificação enfrentam trabalhos temporários e falta de segurança no emprego, sendo chamados de “precarizados”. É importante compreender essas diferentes perspectivas para ter uma visão completa e informada sobre o mundo do trabalho nos dias de hoje.

As consequências do assédio para o trabalhador

O assédio moral, conforme descrito por especialistas como Soboll (2008) e Hirigoyen (2002), se manifesta de várias formas, desde gestos e agressões verbais até humilhações públicas e coações. Isso pode incluir tarefas degradantes, piadas sexistas, excesso de trabalho, exposição ao ridículo e muitas outras formas de intimidação e humilhação. Estudos pioneiros no Brasil, como os de Barreto (2003), revelaram que uma porcentagem significativa de trabalhadores já passou por situações de violência psicológica no ambiente de trabalho. É importante entender esses detalhes para enfrentar o assédio moral de forma eficaz e garantir um ambiente profissional saudável para todos.

Ao explorar as consequências do assédio moral no ambiente de trabalho, é crucial entender que esses impactos não se limitam apenas ao aspecto físico e mental, mas também afetam profundamente a esfera afetiva e social da vida das vítimas. Segundo especialistas como Schatzmam et al. (2009) e Barreto (2003), as ramificações do assédio moral variam de pessoa para pessoa. Alguns dos sintomas físicos mais comuns incluem dores generalizadas, palpitações, insônia ou sonolência, diminuição da libido, tremores e distúrbios digestivos. Em paralelo, os sintomas psíquicos podem envolver crises de choro, perda de identidade, baixa autoestima, depressão, alcoolismo e até mesmo pensamentos ou tentativas de suicídio. É essencial compreender que esses efeitos não são apenas internos; eles também se manifestam de maneiras sociais e afetivas. As vítimas, ao longo do tempo, podem se distanciar gradualmente de suas vidas familiares e sociais, criando um isolamento prejudicial. O assédio moral pode ser tão insidioso que a vítima começa a duvidar da própria sanidade mental, um fenômeno que os especialistas chamam de traumatismos psíquicos, uma forma de adaptação e sobrevivência em meio à violência.

O assédio moral também pode levar a uma desestabilização psíquica, potencialmente evoluindo para o transtorno do estresse pós-traumático (TEPT) e mudanças duradouras na personalidade, como indicado por Barreto (2003) e Leymann (1996). Estudos revelam que o nível de estresse experimentado pelas vítimas de assédio moral pode ser comparável ao de vítimas de situações extremas, como o estupro. Em fases crônicas, o estresse pós-traumático pode levar a estados depressivos ou obsessivos, tornando evidente a gravidade do impacto do assédio moral na saúde mental.

O papel da avaliação psicológica no contexto jurídico

Quando falamos sobre avaliação psicológica, estamos abordando uma ferramenta vital para identificar casos de assédio moral e suas consequências na saúde mental do trabalhador. Essa avaliação é crucial para reconhecer os sinais de estresse, ansiedade e depressão que podem estar ligados ao assédio moral. Além disso, ela nos oferece insights valiosos sobre como o assédio moral afeta a saúde mental e emocional dos trabalhadores, bem como sua capacidade de realizar suas funções após enfrentarem essa violência.

Na prática da avaliação psicológica, os psicólogos utilizam uma variedade de técnicas, como entrevistas, questionários e testes. Durante essa avaliação, são coletadas informações detalhadas sobre a história pessoal e profissional do trabalhador, assim como seus sintomas e comportamentos. Além disso, o psicólogo pode buscar informações adicionais junto a colegas de trabalho, supervisores e familiares, criando um panorama abrangente da situação.

Quando o assédio moral é levado ao contexto das indenizações por danos pessoais, o papel do psicólogo é crucial. A determinação precisa se houve assédio e/ou discriminação, bem como seus efeitos na vítima, é fundamental. Embora haja debates sobre a compensação monetária em casos de danos morais, muitos argumentam que, apesar de o sofrimento não ter preço, é possível oferecer uma forma de compensação. É importante diferenciar entre dano psíquico e dano moral; o primeiro é da responsabilidade do psicólogo, enquanto o segundo cabe ao agente jurídico. Ambos trabalham em conjunto, cada um com seu papel específico, para abordar as complexidades do assédio moral no ambiente de trabalho.

Se você sofre qualquer tipo de violência no seu trabalho, procure ajuda especializada para assegurar os seus direitos e para cuidar da sua saúde mental.

Espero que essas informações tenham te ajudado. Até logo, fique bem!

Referências:

  • Antunes, R. (2000). Os sentidos do trabalho: Ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho São Paulo, SP: Boitempo.
  • KUBO, S. H.; GOUVÊA, M. A.; MANTOVANI, D. M. N. Dimensões do significado do trabalho e suas relações. Pretexto, v. 14, n. 3 p. 28-49, 2013.
  • STANDING, G. O precariado: a nova classe perigosa. São Paulo: Autêntica, 2013.
  • BLANCH, J. M. Trabajar en la modernidad industrial. In: BLANCH, J. M. (Org.). Teoría de las relaciones laborales: fundamentos. Barcelona: UOC. 2003. p. 19-148.
  • Hirigoyen, M.F. (2002). Mal-estar no trabalho: redefinindo o assédio moral. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.
  • Soboll, L. A. P. (2008). Assédio moral/organizacional: Uma análise da organização do trabalho. São Paulo: Casa do Psicólogo.
  • Barreto, M.M.S. (2003). Violência, saúde e trabalho: uma jornada de humilhações. São Paulo: EDUC.
  • Schatzmam et al. (2009), Aspectos definidores do assédio moral. In T. C. Gosdal & L. A. P. Soboll (Eds.), Assédio moral interpessoal e organizacional: Um enfoque interdisciplinar (pp.17-32). São Paulo: LTr.
  • Leymann, H. (1996). The content and development of mobbing at work. European Journal of Work and Organizational Psychology, 5(2), 165-184.

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